BABY DRIVER (2017) | #ANÁLISETBT
Um musical de ação. Um filme com cara de videoclipe. Uma aula de montagem. Qualquer uma das definições se encaixa perfeitamente em Baby Driver (2017), “Em Ritmo de Fuga” no título abrasileirado. A obra do diretor Edgar Wrigh conta a trajetória do jovem Baby (Ansel Elgort), um talentoso motorista que usa suas habilidades no volante para ajudar um grupo de criminosos, mas que no fundo quer se ver livre dessa realidade. O garoto também convive com um problema de audição que o “obriga” a utilizar fones de ouvido o tempo inteiro para diminuir o incômodo, até mesmo enquanto dirige; e é em cima desse detalhe que o filme constrói sua identidade.
O roteiro de Baby Driver não é nenhuma novidade: um criminoso que não gosta do que faz, que encontra o amor de sua vida e busca meios para abandonar o crime e viver ao lado dela. O que torna o longa especial é a forma como o diretor tornou a trilha sonora parte fundamental da narrativa. As músicas, aqui, são tão essenciais que poderiam ser creditadas como parte do elenco, visto que ao longo do tempo são elas quem definem os cortes de cena, as movimentações de câmera e as ações dos personagens. Nas mãos do Edgar Wright até o cantar dos pneus, o barulho dos tiros e os sons do ambiente tornaram-se músicas nas sequências de ação.
A montagem do filme é um show à parte. Wright abusa dos cortes, principalmente nas cenas de perseguição, mas sem deixar nenhuma delas confusa ou truncada. Nessas sequências, entre um corte e outro, ele intercala planos abertos - inclusive aéreos - com planos detalhes da troca de marchas, do pé no acelerador e até do movimento do limpa vidros; tudo sincronizado com a música que o Baby escuta em seus fones de ouvido. A sincronia perfeita entre músicas e imagens dão ao filme a cara de videoclipe que falei no início do texto.
Mesmo se passando em uma cidade comum, a cenografia também reserva alguns caprichos em Baby Driver. Após o prólogo de abertura, por exemplo, há um plano sequência magistral que apresenta Baby indo a uma cafeteria enquanto escuta a canção “Harlem Shuffle”, da dupla americana Bob & Earl (eu também nunca ouvi nem falar). A cena por si só é uma diversão, mas um detalhe chama ainda mais atenção: enquanto escutamos a música podemos ler partes da letra que aparecem pichadas nas paredes, em cartazes e até em anúncios de lojas. Isso mostra que o cenário nem sempre precisa ser meramente um plano de fundo.
Outro momento em que a ambientação é fundamental para o sentido da cena é no encontro entre Baby e sua boysinha, Debóra, interpretada pela atriz Lily James. Aqui tudo se passa em uma lavanderia e as cores também mostram sua grande importância. Enquanto os dois conversam e cantam, nós nos encantamos com o colorido das roupas ao fundo, que dão um ar de leveza ao momento. Um contraste com as cenas de Baby no esconderijo dos criminosos, onde o cenário com tons escuros mostra a ausência de prazer do personagem com aquilo que faz.
Além dos aspectos técnicos, o filme também é destaque pelo elenco primoroso que possui. Kevin Spacey (Doc), Jamie Foxx (Bats), Jon Hamm (Buddy) e, claro, Ansel Elgort e Lily James, são os principais nomes do longa e entregam momentos marcantes. Elgort, inclusive, parece ter nascido para interpretar o jovem Baby - e não é apenas pela cara de 16 anos. Carismático e talentoso, ele vai da seriedade ao humor rapidamente. (Kevin Spacey, por que nos decepcionastes tanto na vida real?)
Baby Driver foi um dos melhores filmes de 2017 - indicado a três Oscars e vencedor do Bafta de melhor montagem - e entra fácil na minha lista de filmes favoritos. Com uma identidade bem definida, trilha sonora e montagem marcantes, não será surpresa se com o passar do tempo o longa entrar para a lista de referências da galera cultzera. Potencial – e ritmo – para isso não faltam.
Se você ainda não assistiu, deveria!
Título em português: Em Ritmo de Fuga
Título original: Baby Driver
Ano: 2017
Direção: Edgar Wright
País: Estados Unidos da América - Reino Unido
Gênero: Ação; Crime; Drama.
Post a Comment